Dá–se assim
Assim como?
Gravura, colagem... Natali Tubenchlak neste trabalho, sua proposta onde se volta também para a performance do público. O trabalho remete a um imaginário infantil feminino: roupas de bonecas de papel, destas que se encaixam em corpos pré-recortados, estabelecidos, sorridentes e receptivos. Desta maneira, a relação que se dá, abre para um imaginário carregado de fontes comportamentais.
Natali manda um convite para que o público se atreva a dar cabeça, e porque não, corpo, às vidas dessas mulheres/meninas.
Mais do que técnicas, a gravura e a colagem tem uma inserção na história da arte como ponto chave do fazer artístico, não é difícil pensar em artistas que a utilizaram como tal. No caso de Natali, não é disso que se trata. A gravura, principalmente ela, é um statement, uma declaração, afirmação de como se colocar no mundo do qual se faz parte. É uma resposta.
Gravar requer uma apreciação, um tempo de espera e maturação que atualmente é quase uma atitude de guerrilha. Sem tempo para digestão, engolimos tudo imediatamente e o corpo que se vire em absorver. Mais que um tempo contemplativo, gravar demanda ação, atenção dinâmica, auto crítica e repetição. Errar, errar, errar, até que, nesta prática, da errância se encontre um acerto.
O corpo está presente nos trabalhos de Natali, ela os faz, feitos para usar. Geni está aqui para quem a conhece. Música, história e comportamento. A Geni, ela, esta mulher usada, é homenageada aqui. Vivas à Geni, que mesmo sendo objetificada faz o que quiser com o seu corpo. SEU corpo.
A fala corriqueira do ardil feminino em consonância à sua fragilidade chega na obra de Natali como propositiva: somos cobras, somos fofas, somos gentis, somos foda!
E nesse impulso nossa observação parte para fruição. Pare agora e veja o que está acontecendo.
Dá – se assim. Natali não vai dar nada, ela vai tomar de nós. Entreguemo-nos.
Keyna Eleison