Poppins é uma fonte descontraída e proeminente, inspirada na caligrafia. Com certeza chamará a atenção do leitor, especialmente em parágrafos curtos.
Jibóia
Em forma de animal, planta ou disfarçada de humano, a serpente se apresenta conforme a ocasião. Certa vez a chamaram, Lilith, de coisa ruim. Muitas vezes a chamam em sonhos. O que se sabe é que ela nasce bem pequena e vai crescendo, crescendo até ficar forte e grande o suficiente para abraçar toda uma aldeia.
É comum encontrá-la na forma de planta protetora da casa, na energia da kundalini dos corpos femininos e até mesmo mentalmente, em conversa com os Xapiri. A jiboia na menina mulher, a menina mulher na jiboia. São um só corpo; poder matriarcal que abraça, cuida, compartilha saberes e enxerga através do olho da alma.
A jiboia é livre e prefere o exílio a viver em submissão. Quando tentam calá-la, é guerra; luz e sombra, vida e morte. Rasteja, trepa numa árvore, nada em um rio, se enrola, abocanha e digere osso por osso aquele que a ameaça. O seu abraço afaga, abafa, afoga.
Juntas, duas meninas mulheres são mais poderosas do que uma só. Quando estão em dupla, as serpentes formam a imagem do DNA. Ela é a mãe da vida.
Bananeira
A bananeira tem um coração que fica suspenso no ar. Cada coração carrega um cacho, cada cacho muitas pencas, cada penca muitas bananas. Quando seu cacho é arrancado do pé, o coração vai junto. Na colheita, um facão separa em dois o corpo; de um lado os pés, do outro cabeça coração.
Comem bananas e trançam folhas. Poucos são os que sabem preparar o coração. Ferver, cozinhar e temperar. Esse é um alimento de saberes matriarcais. Aquele que o come precisa ser convidado, ter permissão. Depois da colheita é preciso honrá-la.
Dependendo da espécie e das condições, em poucos meses nasce outro coração. O ciclo se completa.
Paula Borghi